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Adenoma Hepático: Uma Visão Completa

Atualizado em: 06/06/2024
Tempo de Leitura: 6 minutos
Sumário
Adenoma hepático

O adenoma hepático, também conhecido como adenoma hepatocelular, é uma lesão benigna do fígado que se origina dos hepatócitos, as células principais do fígado. Apesar de ser uma condição rara, sua importância clínica reside no potencial de complicações, como a transformação maligna e o risco de hemorragia. Este artigo explora os subtipos de adenoma hepático, discute os fatores de risco, métodos de diagnóstico e opções de tratamento, variando de acordo com o tamanho da lesão e a presença de sintomas.

Epidemiologia

Os adenomas hepáticos são relativamente raros, com uma incidência estimada de 3 a 4 casos por 100.000 pessoas por ano.

Eles são encontrados predominantemente em mulheres em idade fértil, particularmente entre 20 e 40 anos, e estão fortemente associados ao uso de contraceptivos orais.

Estima-se que cerca de 85% dos casos ocorram em mulheres, refletindo a influência hormonal na etiologia da doença. Nos homens, os adenomas hepáticos são menos comuns, mas podem ser observados em usuários de esteroides anabolizantes e em pacientes com certas condições metabólicas. A prevalência global pode variar dependendo do uso de contraceptivos orais e de outras terapias hormonais em diferentes populações.

Fatores de Risco

A compreensão dos fatores de risco é essencial para a prevenção e manejo eficaz dos adenomas hepáticos. Alguns dos principais fatores de risco incluem:

Uso de Contraceptivos Orais:

  • Há uma forte associação entre o uso prolongado de contraceptivos orais e o desenvolvimento de adenomas hepáticos, especialmente em mulheres jovens.

Uso de Anabolizantes:

  • O uso de esteroides anabolizantes está relacionado ao aumento do risco de adenomas hepáticos, tanto em homens quanto em mulheres.

Obesidade e Síndrome Metabólica:

  • A obesidade e condições associadas, como diabetes tipo 2 e dislipidemia, são fatores de risco significativos para o desenvolvimento de adenomas hepáticos, particularmente do subtipo inflamatório.

Doenças Genéticas:

  • Algumas doenças genéticas, como a glicogenose tipo I e a mutação HNF1A, podem predispor ao desenvolvimento de adenomas hepáticos.

Diagnóstico do Adenoma Hepático

O diagnóstico precoce e preciso do adenoma hepático é fundamental para a escolha do tratamento adequado e a prevenção de complicações. Os métodos diagnósticos incluem:

História Clínica e Exame Físico:

  • Avaliação de fatores de risco, como uso de contraceptivos orais e esteroides anabolizantes, histórico de doenças hepáticas e sintomas, como dor abdominal ou massa palpável.

Exames de Imagem:

  • Ultrassonografia (US): É frequentemente o primeiro exame realizado para detectar lesões hepáticas devido à sua disponibilidade e custo. Os adenomas hepáticos aparecem como lesões bem delimitadas e hiperecogênicas, embora possam variar em ecogenicidade dependendo do conteúdo de gordura e hemorragia.
  • Tomografia Computadorizada (TC): Oferece uma avaliação detalhada do tamanho, localização e características da lesão. Adenomas hepáticos geralmente aparecem como lesões hipovasculares na fase arterial e isodensas ou hipodensas na fase portal. A presença de gordura pode ser indicada por atenuação negativa na imagem.
  • Ressonância Magnética (RM): Considerada a melhor modalidade para caracterização das lesões hepáticas. Na RM, os adenomas hepáticos mostram sinal variável em T1 e T2, dependendo da quantidade de gordura e hemorragia. As imagens ponderadas por difusão e o uso de contraste (como o gadolínio) ajudam a diferenciar os adenomas de outras lesões hepáticas.

Biópsia Hepática:

  • Realizada quando há dúvida diagnóstica após exames de imagem ou quando há suspeita de transformação maligna. A biópsia fornece a confirmação histológica da lesão, evidenciando características específicas de cada subtipo.

Exames Laboratoriais:

  • Incluem testes de função hepática, marcadores tumorais e análises genéticas, especialmente em casos de adenomas associados a mutações específicas.

Subtipos de Adenoma Hepático

A classificação dos adenomas hepáticos em subtipos é crucial para a abordagem clínica e terapêutica. Atualmente, são reconhecidos quatro subtipos principais e mais comuns, cada um com características distintas e implicações terapêuticas:

Adenoma Hepático HNF1A-Inativo (HNF1A-Mutado):

  • Este subtipo é caracterizado pela inativação do gene HNF1A. É mais comum em mulheres e está associado ao uso de contraceptivos orais.
  • Morfologicamente, apresenta gordura intralesional significativa.
  • Tratamento:
    • Lesões menores que 5 cm podem ser monitoradas regularmente com ultrassonografia ou ressonância magnética.
    • Para lesões maiores que 5 cm, a ressecção cirúrgica pode ser considerada, especialmente se houver sintomas ou complicações.

Adenoma Hepático Inflamatório:

  • Caracteriza-se pela presença de inflamação e dilatação dos sinusoides hepáticos.
  • Frequentemente associado à obesidade, síndrome metabólica e ao uso de contraceptivos orais.
  • Tratamento:
    • Interrupção do uso de contraceptivos orais e controle de comorbidades como obesidade e diabetes.
    • Monitoramento regular é crucial. Lesões maiores que 5 cm ou sintomáticas podem necessitar de ressecção cirúrgica.

Adenoma Hepático Beta-Catenina Ativado:

  • Este subtipo é resultante de mutações ativadoras na via da beta-catenina.
  • Associado a um risco significativamente elevado de transformação maligna em carcinoma hepatocelular.
  • Tratamento:
    • Devido ao alto risco de malignidade, a ressecção cirúrgica é frequentemente recomendada, independentemente do tamanho da lesão.
    • Monitoramento intensivo com exames de imagem regulares se a cirurgia não for imediatamente viável.

Adenoma Hepático Não Classificável:

  • Inclui lesões que não se enquadram claramente nos outros subtipos mencionados.
  • Requer um monitoramento cuidadoso devido à incerteza prognóstica.
  • Tratamento:
    • Monitoramento regular com exames de imagem para avaliar qualquer mudança no tamanho ou nas características da lesão.
    • A ressecção pode ser considerada caso a lesão aumente de tamanho ou se tornem sintomática.

Tratamento do Adenoma Hepático

O manejo dos adenomas hepáticos depende principalmente do tamanho da lesão, dos sintomas apresentados pelo paciente e do subtipo específico. As estratégias de tratamento podem ser divididas em abordagens não invasivas e invasivas.

Tratamento Baseado no Tamanho da Lesão:

Lesões menores que 5 cm:

  • Monitoramento regular com ultrassonografia, tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM).
  • Mudanças no estilo de vida, como a interrupção do uso de contraceptivos orais e controle da obesidade, podem ser recomendadas.

Lesões maiores que 5 cm:

  • Indicam um risco aumentado de complicações, como hemorragia ou transformação maligna, justificando uma intervenção mais ativa.
  • Ressecção cirúrgica, a hepatectomia, é geralmente recomendada para lesões grandes, especialmente se houver sintomas ou características de alto risco (por exemplo, subtipo beta-catenina ativado).

Monitoramento Regular da Lesão

O monitoramento regular é uma abordagem essencial para lesões menores e assintomáticas, permitindo a detecção precoce de alterações no tamanho ou na morfologia da lesão. As etapas do monitoramento incluem:

Ultrassonografia Semestral ou Anual:

  • A ultrassonografia é um método de rastreamento eficiente e não invasivo. Realizada a cada seis meses a um ano, dependendo do tamanho e do comportamento da lesão. Permite a detecção de alterações no tamanho e na ecogenicidade do adenoma.

Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM):

  • Estes exames são recomendados para uma avaliação mais detalhada e são geralmente realizados anualmente ou quando há mudanças suspeitas observadas na ultrassonografia. A TC e a RM ajudam a caracterizar a vascularização da lesão e a detectar sinais de complicações, como hemorragia ou transformação maligna.

Exames de Sangue Periódicos:

  • Incluem testes de função hepática e marcadores tumorais. Embora os adenomas sejam lesões benignas, é importante monitorar para detectar possíveis sinais de malignidade.

Avaliação Clínica Regular:

  • Consultas regulares com um hepatologista ou cirurgião hepatobiliar são cruciais para revisar os resultados dos exames de imagem e laboratoriais, avaliar sintomas e ajustar a estratégia de monitoramento conforme necessário. A frequência das consultas depende do comportamento da lesão e da presença de fatores de risco adicionais.

Abordagens Invasivas e Não Invasivas

Abordagens Invasivas:

Ressecção Cirúrgica:

  • Indicada para lesões grandes, sintomáticas ou com características suspeitas de malignidade. Envolve a remoção parcial do fígado contendo o adenoma.

Embolização Arterial:

  • Procedimento minimamente invasivo indicado para pacientes com alto risco cirúrgico ou como medida temporária antes da cirurgia. Consiste na oclusão seletiva da artéria hepática que nutre o adenoma, levando à redução do seu tamanho.

Abordagens Não Invasivas:

Monitoramento Regular:

  • Para lesões pequenas e assintomáticas, com acompanhamento de imagem periódico para detectar qualquer alteração no tamanho ou na morfologia.

Interrupção de Contraceptivos Orais:

  • Recomendado para pacientes do sexo feminino, visto que o uso de estrogênios pode estar associado ao crescimento do adenoma.

Controle de Comorbidades:

  • Manejo da obesidade, controle da síndrome metabólica e modificação de fatores de risco associados.

Conclusão

O adenoma hepático é uma condição que requer uma abordagem personalizada, baseada no tamanho da lesão, sintomas e características específicas de cada subtipo. A compreensão detalhada dos subtipos de adenoma hepático, fatores de risco e métodos diagnósticos permite uma melhor tomada de decisão em relação ao tratamento, minimizando riscos e otimizando os resultados para os pacientes. Consultas regulares com um hepatologista ou cirurgião hepatobiliar e exames de imagem periódicos são essenciais para um manejo eficaz desta condição.

Foto Dr Yuri Boteon
Dr. Yuri Boteon
CRM: 144.829/SP
RQE: 56131 - Cirurgia Geral
Médico da Equipe de Transplante de Fígado da Rede D’or. Professor da Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e Professor do Departamento de Cirurgia da Universidade Santo Amaro.

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